Marcia Begalli
A física Marcia Begalli, que pesquisa física de altas energias, tem a orientação a jovens físicos como um dos propósitos da carreira
Por Lola Ferreira
A investigação da colisão de partículas norteia seu trabalho como cientista, mas como integrante da pesquisa no Brasil ela também vê a divulgação científica como atividade das mais importantes
Foi na Alemanha, no final dos anos 1980, que Marcia Begalli completou seu doutorado em Física. Nos seis anos em que esteve no país europeu, além de estudar na RWTH Aachen University, também trabalhou como pesquisadora. Com o aumento da tensão política, que culminaria na queda do Muro de Berlim, fez um pós-doutorado na Universidade de Genova e, depois de dois anos, retornou ao Brasil, onde já havia se graduado na mesma área na Unicamp (Universidade de Campinas) e obtido o título de mestre no Instituto de Física Teórica, atualmente da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Desde então, se dedica ao estudo e à pesquisa de Física de Altas Energias, e sua principal atividade, a partir de 2007, organizar a Masterclass Handson in Particle Physics, em parceria com o International Particle Physics Outreach Group e com o Cern, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear. Ela também é professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), e não hesita em dizer que prefere dar aulas para calouros.
A proximidade com aqueles alunos que ainda estão no início da graduação, ela explica, é fundamental porque ela gosta de ajudar cada um a “se encontrar” profissionalmente. “Eu sou bem exigente com eles, converso se é isso mesmo que eles querem, às vezes converso com os pais. Ainda tem aquela coisa que ciências humanas e artes não são uma coisa boa. Eu entendo a preocupação dos pais, mas se a pessoa faz o que não quer, não vai dar certo.”
Com orgulho, ela conta de ex-alunos que, após as conversas, encontraram uma trajetória profissional bem-sucedida no Direito e até nas Artes. É o mesmo sorriso que marca sua fala ao lembrar de um profissional da limpeza de uma unidade de colégio público de Niterói, que ao ver a movimentação para uma masterclass tomou fôlego novamente e decidiu terminar os estudos. “É para isso que serve esse trabalho”, define.
A masterclass é um evento de um dia, em que pessoas de qualquer idade ou formação podem discutir aspectos da física de altas energias, com profissionais da área. Em universidades, em colégios e, futuramente, em aldeias indígenas, a ideia do projeto é, simplesmente, levar conhecimento. Após 12 anos à frente do projeto, que foi criado pelo Cern em 2005, e trazido ao Brasil em 2007, ela reconhece que dedica bastante tempo, mas enxerga na possibilidade de facilitar o entendimento da física ao maior número de pessoas uma missão de vida.
Amor pela física
Begalli nasceu em São Caetano do Sul, no estado de São Paulo, e sempre estudou em escolas públicas. Sua primeira paixão foi a matemática (“quando eu não tirava 10, tinha até febre”), ainda no ensino fundamental, mas ao chegar ao ensino médio descobriu o mundo de possibilidades que a física também proporciona, principalmente ao relacionar todas elas a sua infância.
Quando a sua escola fez uma parceria e passou a utilizar um método alternativo de ensino de física, do Grupo de Reelaboração do Ensino de Física da USP (Universidade de São Paulo), ela descobriu melhor como funcionam os foguetes, e lembrou daqueles que o seu pai fazia para os dois brincarem na infância. Infelizmente, a descoberta foi cerca de dois meses após o falecimento dele, quando ela tinha apenas 15 anos de idade.
A emoção e a conexão com o pai permearam a escolha, e durante o percurso profissional se aproximou do desenvolvimento dos detectores de partículas. Um dos exemplos da importância do desenvolvimento destes detectores é a melhoria dos resultados de raio-x, que impacta diretamente a Física Médica, e auxilia na leitura do diagnóstico impresso nas lâminas.
A parceria com o Cern, por conta da organização nacional da masterclass, aproximou Begalli de diversas universidades e centros de estudos do Brasil. Hoje, ela se dedica a auxiliar pesquisadores que desenvolvem novos detectores que podem melhorar o trabalho do Cern e tornar ainda melhor a pesquisa de partículas.
“As colisões proton-proton têm a energia mais alta em laboratório, produz inúmeras partículas. A gente tem uma colisão a cada 25 nanosegundos, uma quantidade imensa, então tem que filtrar esses dados. (…) A Coppe, da UFRJ, fez um novo detector para reconstruir todo esse sinal eletrônico deixado, levando em considerações que tem outras contribuições que não são de interesse do experimento. Comecei a trabalhar com eles para aprovar esse software”, explica.
Com o foco na divulgação científica e em outros projetos e pesquisas similares a esta, ela destaca que pretende continuar nessa empreitada por muito tempo: “É muito trabalho em conjunto. Você inventa coisas novas e vai descobrindo. A gente trabalha demais, mas o gostoso é isso: nunca para de ter que aprender”.
Marcia Begalli
UNIVERSIDADE DE DOUTORADO
RWTH Aachen University – Alemanha
ÁREA DE PESQUISA MAIS RELEVANTE
Física
ONDE VIVE
Rio de Janeiro (RJ)
O QUE NÃO PODE FALTAR NA CIÊNCIA BRASILEIRA?
Bons professores. “Eu fui impactada por bons professores ao longo de toda a minha vida, e uma em especial me fez tomar gosto pelo magistério e pela profissão. Os professores são o melhor apoio.”