Cristina Wayne Nogueira
Cristina Wayne Nogueira, a pesquisadora que investiga a cura para depressão e perda de memória associada a diabetes
Por Vitória Régia da Silva
“São os homens que estão nas sociedades e quem fazem as indicações. Eu sempre digo que se eu colocar meu currículo ao lado de um homem, por mérito ou produção eu não perco, mas por indicação sim.”, diz a pesquisadora
A pesquisadora gaúcha Cristina Wayne Nogueira é filha de professores universitários, e desde se sentia influenciada a seguir a trilha da docência e da pesquisa. Após terminar sua graduação em farmácia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), aplicou para o mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, passou, interessou-se pela bioquímica, e vem contribuindo com a pesquisa nessa área desde então.
Coordenadora do Laboratório de Síntese Reatividade e Avaliação Farmacológica e Toxicológica de Organocalcogênios, um grande laboratório em que é responsável pela avaliação farmacológica, seu trabalho há mais de vinte anos na área de farmacologia e toxicologia já lhe rendeu diversas premiações e reconhecimentos. Recebeu o Prêmio Pesquisador Gaúcho Destaque em Ciências Biológicas da Fapergs em 2017 e o Scopus Brasil 2010, da Editora Elsevier Capes/ Ministério da Educação (MEC). Além de ter sido coordenadora do Comitê Assessor de Ciências Biológicas da Fapergs (2007-2011).
A bioquímica toxicológica, sua área de pesquisa, estuda moléculas que causam algum tipo de toxicidade para os sistemas vivos, como metais pesados, agrotóxicos e medicamentos. “O que eu estudo são moléculas sintéticas [criadas em laboratório], e o nosso carro chefe são moléculas orgânicas que contêm o elemento selênio. Eu investigo essas moléculas em dois prismas, o efeito farmacológico e também a possível toxicidade, como dano renal, dado hepático etc.”
Depois de receber essas moléculas, o setor de química da UFSM as sintetiza. A pesquisadora faz a triagem com testes bioquímicos e experimentos (que podem ser com células, modelagem molecular ou uma enzima), para trabalhar in vitro, no tubo de ensaio, buscando um efeito farmacológico para essa molécula. Depois dessa etapa, são utilizados testes e modelos experimentais em roedores.
Uma de suas principais pesquisas é a investigação farmacológica em modelos experimentais, referentes ao tratamento de depressão e déficit cognitivo de diabetes. Segundo a pesquisadora, uma série de estudos com humanos evidenciam que depois do diagnóstico de diabetes, com o passar do tempo, a toxicidade da glicose pode desenvolver a perda de memória e a depressão. “O selênio também pode ser usado como suplemento alimentar e tem uma série de efeitos positivos. Por isso, investigamos que esse suplemento associado ao exercício físico pode levar uma melhora na memória e uma reversão da depressão nos animais testados”
Docente há duas décadas, destaca como a formação de alunos na graduação e pós-graduação, uma de suas paixões, colaborou para o crescimento da área. “Contribuímos para a área de organocalcogênios na difusão do conhecimento, que cresceu e se desenvolveu muito no Brasil. Nosso trabalho associado ao da química conseguiu nos colocar em uma posição de destaque na área no país e conseguir o respeito da comunidade internacional”, pontua.
Gênero e interior
A Universidade de Leiden, na Holanda, divulgou em janeiro, o ranking global das instituições de ensino superior com maior produção acadêmica realizada por mulheres no mundo. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ficou entre as dez primeiras colocadas no mundo, na décima posição. Nogueira destaca a importância da instituição que faz parte promover oportunidades de pesquisa para todos, incentivando que as mulheres publiquem.
Porém, as desigualdades de gênero na área ainda existem. “Eu não tive problemas para chegar até o final da carreira acadêmica, a nível institucional, mas eu sou a única pesquisadora nível A1 do CNPq da minha universidade. São 11 professores que detêm esse nível e apenas uma mulher. Por doze anos, eu sou a única e ninguém nunca se espantou com isso. Está claro que existe uma desigualdade de gênero aí”, destaca Nogueira. O nível A1 do CNPQ é a mais alta categoria de bolsa de produtividade reservado a pesquisadores de excelência continuada na produção científica e que liderem grupos de pesquisa consolidados
Segundo a pesquisadora, uma outra dificuldade que as mulheres vivenciam na carreira acadêmica é a falta de visibilidade e indicação para sociedades da área. “São os homens que estão nas sociedades e quem fazem as indicações. Eu sempre digo que se eu colocar meu currículo ao lado de um homem, por mérito ou produção eu não perco, mas por indicação sim.”
Além disso, a pesquisadora destaca que a localização geográfica somada a desigualdade de gênero impacta também nessas dificuldades. “É muito mais complexo para quem não está nos grandes centros ter visibilidade pelo seu trabalho, existe uma limitação geográfica que te impede de estar em certos lugares”.
Cristina Wayne Nogueira
UNIVERSIDADE DE DOUTORADO
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
ÁREA DE PESQUISA MAIS RELEVANTE
Bioquímica
TÍTULO DA PESQUISA
Diphenyl diselenide a janus-faced molecule
ONDE VIVE
Santa Maria (RS)
O QUE NÃO PODE FALTAR NA CIÊNCIA BRASILEIRA?
Financiamento e autonomia. “É fundamental o financiamento contínuo, o que é um grande problema de quem mora no interior, e respeito a autonomia das universidades”.